Better Man – A História de Robbie Williams: Uma Cinebiografia Inusitada
Better Man – A História de Robbie Williams (2024) apresenta a trajetória de Robbie Williams de maneira singular e inovadora. Dirigido por Michael Gracey, o filme vai além da tradicional cinebiografia musical e explora os altos e baixos da vida do cantor britânico por meio de uma abordagem estilizada e emocionalmente impactante. Em vez de se apoiar apenas no formato linear convencional, Better Man utiliza elementos visuais e narrativos ousados, como a escolha de representar Williams através de um chimpanzé em CGI, uma metáfora para sua relação com a fama e sua constante performance para o público. O longa chega aos cinemas brasileiros em 13 de março de 2025, distribuído pela Diamond Films, a maior distribuidora independente da América Latina, e convida o espectador a revisitar os anos 90 e 2000 ao som de sucessos como “Angels”, “Let Me Entertain You”, “Rock DJ” e “Come Undone”.
Metáfora Visual e Narrativa Emocional
A escolha de utilizar um chimpanzé em CGI para representar Robbie é um dos aspectos mais marcantes da obra. Essa decisão não se configura como um mero truque visual, mas sim como um recurso narrativo que permite ao espectador focar nas nuances internas do protagonista, sem as comparações imediatas que costumam marcar as cinebiografias tradicionais. A performance física de Jonno Davies, aliada à captura de movimentos e à utilização da própria voz de Robbie Williams, cria uma dualidade intrigante que enriquece o caráter multifacetado do personagem.
No primeiro ato, a trama segue o padrão esperado de um filme biográfico: acompanhamos a infância de Robbie, seus conflitos familiares e sua ascensão meteórica com o Take That. Contudo, a narrativa ganha força ao explorar suas relações interpessoais e a maneira como moldaram sua trajetória. O longa destaca a negligência paterna – Robbie cresceu sob a sombra de um pai egocêntrico e mais interessado em sua própria carreira no showbiz do que na criação do filho. Essa ausência contrasta com a presença calorosa da avó Betty, que surge como a única figura de afeto genuíno em sua juventude. A relação com sua mãe, Janet, também é retratada como um pilar de estabilidade, enquanto sua amizade com Nate, um dos poucos vínculos sinceros de sua vida, dá ao espectador um respiro em meio ao caos.
As tensões com os colegas do Take That, especialmente Gary Barlow, e o desprezo do empresário Nigel Martin Smith são elementos importantes, mas o filme se recusa a transformar essas relações em vilões caricatos. Em vez disso, revela como a autocrítica implacável e a constante busca por validação corroeram Robbie ao longo dos anos. As vozes que o assombram – literalmente representadas como versões mais jovens de si mesmo – ressoam em sua mente, e a maneira como ele lida com elas define seu percurso.
A estética visual do longa contribui para essa imersão emocional. A cinematografia e a paleta de cores desbotada ajudam a ancorar a história na realidade, contrastando com as sequências musicais vibrantes que elevam a experiência do espectador. As montagens são bem construídas e os flashbacks são usados de maneira eficaz, destacando a diferença entre o passado e o presente do artista.
A Trilha Sonora e a Canção Inédita
Outro grande destaque de Better Man é sua trilha sonora, que traz novas versões de clássicos de Williams regravadas especialmente para o filme. Sem alterar as letras, a reinterpretação musical enfatiza as emoções de cada cena, dando uma nova camada de significado às canções. Além disso, o filme apresenta a inédita Forbidden Road, escrita por Williams após assistir à versão finalizada do longa. A canção funciona como uma confissão, sintetizando a carga emocional da história retratada.
Ouça a música inédita Robbie Williams – Forbidden Road (Taken from ‘Better Man’ Soundtrack)
O Legado de Robbie Williams
Com mais de 70 milhões de discos vendidos, Robbie Williams se consolidou como um dos maiores artistas do Reino Unido. O filme também resgata momentos marcantes de sua carreira, como sua passagem pela boyband Take That e sua histórica apresentação para 375 mil pessoas em Knebworth, um recorde jamais quebrado no país. Em 2004, Williams foi introduzido ao UK Music Hall of Fame, consolidando sua importância na cena musical britânica.
Mas Better Man não se contenta em apenas celebrar os feitos do cantor. O filme se aprofunda em sua batalha contra o vício e os pensamentos suicidas, abordando essas questões de forma sutil até que se tornam inevitáveis. O terceiro ato do filme expõe de maneira mais intensa esses conflitos internos, culminando em um momento que deveria ser o grande clímax emocional – mas que, de certa forma, poderia ter sido ainda mais impactante.
Better Man – Um Retrato Profundo e Ousado
No fim, Better Man – A História de Robbie Williams não é apenas sobre um cantor famoso, mas sobre um homem tentando se entender em meio à pressão do sucesso. É uma obra emocionalmente complexa, visualmente ousada e musicalmente impactante, que traz um retrato cru e sincero de um artista em busca de sua própria identidade.
Diferente de outras cinebiografias musicais, Better Man não busca apenas exaltar o legado de Williams, mas explorar a complexidade de sua identidade. O filme não trata apenas de superação, mas também do processo de aceitar a si mesmo e encontrar um propósito além da fama. O desfecho não é uma simples redenção, mas uma jornada árdua e autêntica, tornando Better Man uma das produções mais inovadoras do gênero. Mesmo que o espectador não seja fã de Robbie Williams, a obra se sustenta como um poderoso estudo sobre o impacto da fama e a luta pela autoaceitação.